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sábado, 18 de abril de 2009

Estou grávida da minha namorada

Um casal de lésbicas de São Paulo pode ser o primeiro a registrar os filhos com o nome de duas mãeMunira Khalil El Ourra não vai dar à luz, mas é mãe de duas crianças que vão nascer até a primeira semana de maio. Quem está na 31ª semana de gestação é sua companheira, Adriana Tito Maciel. A barriga é de Adriana. Os óvulos fecundados que grudaram no útero dela pertenciam a Munira. Os bebês já têm nome: Eduardo e Ana Luísa. Serão paridos e amamentados por Adriana, de pele marrom e cabelo que nasce crespo. Mas terão a cara de Munira, branquinha e de cabelo liso.

Para a lei, mãe biológica é quem carrega a criança no ventre. Mas um exame de DNA mostraria o contrário. Nem Adriana nem Munira pretendem disputar na Justiça a guarda das crianças. O que elas querem é sair da maternidade juntas, com um documento que permita registrar as crianças no cartório com o sobrenome de cada uma e o nome das duas mães na certidão de nascimento. Como qualquer família normal.

O sonho de ter filhos era antigo para as moças de 20 e poucos anos que se conheceram em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo. A decisão de namorar sério foi influenciada por esse interesse em comum. Em poucos meses, estavam dividindo um apartamento e fazendo planos. Algum tempo depois, Adriana descobriu no ginecologista que seu útero estava ameaçado por uma doença que já lhe tinha arrancado um ovário: a endometriose. “Fiz tratamento desde os 18 anos”, diz Adriana. “Na época, achavam que era cólica menstrual e medicavam com morfina. Quando descobriram, já tinha perdido o ovário direito. E as dores continuavam.” O médico disse a ela que uma gravidez reduziria o problema em 80% e ainda lhe daria a chance de ter um filho antes que o útero ficasse inválido.

Apesar do relacionamento ainda recente, Munira e Adriana aceitaram a ideia e procuraram um especialista em reprodução humana no Hospital Santa Joana para fazer a inseminação artificial. “A gente achava que iria comprar esperma, levar para casa e aplicar com uma seringa”, diz Munira. Os planos mudaram quando o novo médico descobriu que Adriana só tinha metade do ovário esquerdo e já não podia engravidar com os próprios óvulos. Ele sugeriu que Munira cedesse os seus. Se usassem o sêmen de um homem de mesmos traços que Adriana, o filho seria parecido com as duas mães.

As duas moças se animaram com a possibilidade de ter um filho que tivesse um pouco de cada uma. Ainda hoje, Adriana se emociona ao contar essa parte da história. Tinha sido muito dolorido receber a notícia de que não poderia ter filhos do seu próprio sangue, e o gesto de Munira foi mais que bem-vindo. “Foi a maior prova de amor que ela poderia me dar.”

Decisão tomada, era preciso fazer alguns exames e começar o tratamento hormonal para estimular os ovários de Munira e sincronizar os ciclos menstruais das duas. Os óvulos de Munira deveriam estar prontos para a inseminação artificial (em laboratório) na mesma época em que o útero de Adriana estivesse pronto para fixar os embriões. Munira se queixava dos percalços do tratamento. De abril a agosto do ano passado, as injeções diárias na barriga, a oscilação de humor que parecia uma TPM constante, a ultrassonografia vaginal toda semana, o acúmulo de líquido no corpo e o ganho de peso eram o preço que ela tinha de pagar pela bênção de ser mãe. Em breve, seria a vez de Adriana suportar a gravidez.

Quando essa fase chegou, Munira diz ter sentido em seu corpo muitos dos sintomas da gravidez da companheira. “Parecia que eu tinha ficado grávida também.” Ela diz ter sentido enjoos, estrias que nunca haviam existido, mau humor, dores nas costas, dor nas pernas, cansaço de dia, insônia de noite e até desejos estranhos. Fernando Prado, o ginecologista das duas, diz não ter explicação para essa sintonia. Ele não descarta que Munira possa até mesmo ter leite quando os bebês nascerem.

Dos exames à gravidez, todo o processo funcionou até melhor que o esperado. “Eu não imaginava que daria certo de primeira”, diz Prado. Segundo ele, a chance de uma inseminação desse tipo vingar é de 50%, levando em consideração a idade das pacientes e outras condições de saúde. Como Adriana ainda tinha miomas no útero por causa da endometriose, imaginou que seria preciso retirá-los antes. Mas eles nem fizeram cócegas. Para ajudar, em vez dos dez a 15 óvulos esperados após o tratamento hormonal, Munira rendeu mais de 20.

in Revista Época

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Reino Unido reconhece casais lésbicos em certidões

No Reino Unido, filhos de casais de lésbicas terão o nome das duas mães na certidão de nascimento:

Agora, mulheres lésbicas em parceria civil, que engravidarem por fertilização in vitro, são legalmente reconhecidas nas certidões de nascimento. A nova lei do Reino Unido dá mais um passo em favor da igualdade entre casais heterossexuais e homossexuais na hora em que forem registrar seus filhos.

A lei também se aplica a casais de lésbicas que não estejam em parceria civil, desde que haja consentimento de ambas as parceiras. A decisão será expandida em abril de 2010, quando casais de homens que recorrerem à barriga de aluguel para ter filhos poderão os dois serem reconhecidos como pais da criança.

Katie Hanson, membro da LGBT Labour (organização trabalhista em prol da igualdade da comunidade LGBT), comemorou a decisão. “Essa nova lei significa que lésbicas em parceria civil que quiserem criar filhos concebidos por fertilização in vitro, automaticamente, terão o mesmo status e proteção legal que os casais heterossexuais", disse.

In Dykerama

segunda-feira, 30 de março de 2009

Procriação medicamente assistida só para mulheres 'tuteladas'

Passar a fronteira para recorrer à procriação medicamente assistida tem sido a solução para muitos casais de lésbicas, confrontados com uma legislação nacional que lhes limita o acesso à inseminação artificial e à fertilização in vitro.

Na verdade, uma barreira que vê na orientação sexual uma incompatibilidade no seu direito de exercerem a maternidade.

"Estas mulheres sofrem uma dupla discriminação, primeiro sexista e depois homofóbica. A lei da inseminação artificial não permite a uma lésbica recorrer a ela, porque está baseada no critério do casamento heterossexual", assegura João Oliveira, doutorando do Centro de Investigação e Interacção Social, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. "Na prática têm de ser tuteladas por um homem para poderem ser inseminadas", sustenta aquele autor de um estudo sobre as lésbicas no mundo LGBT.

De acordo com Fabíola Cardoso - que durante alguns anos liderou o movimento lésbico "Clube Safo" - à família alternativa pouco mais resta que recorrer às técnicas reprodutivas em países que o permitem. Mais que recorrer à justiça. "Quando somos procuradas por mulheres com o desejo de serem mães, que esbarraram nesta lei, indicamos-lhes quais as condições em que o podem fazer com segurança além da fronteira", descreve. "Nos casos da adopção, aconselhamos que uma delas adopte a título individual. É claro que a criança só terá o seu nome. Mas, se estas mulheres recorrerem à justiça entrarão num imbróglio e numa morosidade que não se compadece com o seu direito a serem mães", diz.


In JN