sábado, 22 de agosto de 2009

Klecius Borges - Terapeuta afirmativo para gays, lésbicas e bissexuais

Em seu novo livro, "Terapia Afirmativa: uma introdução à psicologia e à psicoterapia dirigida a gays, lésbicas e bissexuais", o psicólogo Klecius Borges faz um histórico dessa prática de clínica iniciada nos anos 70/80 nos Estados Unidos e introduzida no Brasil pelo próprio especialista no fim dos anos 90.

Apesar de ser uma obra dirigida a psicólogos e psicanalistas, qualquer um pode ler e fazer uso dela para algumas situações cotidianas, ou até para compreender certos dramas que vivemos. Klecius esmiúça os conflitos existenciais e aponta a homofobia externa e a heteronormatividade como causadoras de boa parte das depressões entre gays e lésbicas.

Além de tratar das depressões e opressões, a obra faz um retrato histórico da psicologia homossexual (nos Estados Unidos é conhecida como Lesbian and gay psychology). Segundo o autor, a teoria surgiu em 1979 com o intuito de apresentar a homossexualidade como algo natural, posto que na época as relações entre pessoas do mesmo sexo eram consideradas uma doença.

Klecius diz que a psicologia voltada para homosexuais ganhou espaço e credibilidade quando em 1985 a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a dotar o termo homossexualidade e não mais homossexualismo. A partir desse momento o estudo "sobre homossexualidade deixou de ser simplesmente a demonstração de sua normalidade e passou a abranger inúmeras outras questões relativas à vida de lésbicas, gays e bissexuais."

A homofobia e a identidade gay

A obra conta que o termo homofobia foi cunhado por Weinberg no final da década de 1960 para caracterizar os sentimentos de medo, aversão, ódio e repulsa que alguns heterossexuais têm por homossexuais. Porém, o termo ganhou outros contornos e hoje não é usado mais apenas para designar um tipo de fobia, mas sim para atitudes preconceituosas. Hoje, segundo o livro, alguns psicólogos, principalmente nos Estados Unidos, usam a palavra homoignorante. E o que a terapia afirmativa faz frente tal sintoma, o da homofobia? E o que esta faz com os homossexuais que sofrem com isso?

Em seu livro anterior, "Desiguais", Klecius Borges já havia apontado a homofobia internalizada (gays que tem preconceito consigo mesmo ou pessoas enrustidas com alto grau de homofobia) e que tal sintoma leva as pessoas gays ou lésbicas a se tornarem anti-sociais, a ter forte compulsão por drogas e objetos e outros problemas sociais. Todos estes problemas apontados têm alto grau de relação com a depressão.

Assim, Borges acredita que do "ponto de vista da terapia afirmativa, a homofobia é o núcleo central do trabalho terapêutico com os pacientes gays". Outro problema que o psicólogo aponta é a negação do paciente em assumir que sofre de homofobia internalizada. Isso se deve porque o "gay vive num ambiente heterocentrado e homofóbico, ele é constantemente bombardeado com mensagens negativas sobre a sua natureza". Dessa maneira, é praticamente impossível os homossexuais não internalizarem tais sentimentos negativos.

Outro dado importante relatado no livro é a importância do assumir-se gay. Esse rito, segundo Klecius Borges, é o "mais importante fator para uma resolução psíquica satisfatória, não é à toa que se costuma dizer entre os gays que determinada pessoas é 'bem resolvida', indicando que ela não tem conflitos com sua identidade sexual".

A psicóloga australiana, Vivienne Cass, propôs um modelo de formação de identidade baseado em seis estágios. Mas o autor explica que nem todas as pessoas seguem a ordem e alguns estagnam em alguma delas.

Os estágios são: 1- Confusão de identidade; 2- Comparação de identidade, onde o indivíduo começa a aceitar ser homossexual; 3- Tolerância da identidade, o sujeito começa a se integrar à comunidade; 4- Aceitação da identidade, o indivíduo aceita e não apenas tolera; 5- Orgulho da identidade, aqui ele começa a afrontar pessoas homofóbicas; 6- Síntese de identidade, ele percebe que nem todo mundo é homofóbico.

De forma delicada Klecius toca no assunto álcool e drogas. Pondera que tal realidade se abate em qualquer pessoa, independente de sua orientação sexual. "Mas alguns estudos indicam que entre gays e lésbicas a droga adquire características particulares", ressalta. Segundo o autor os gays, diferente dos héteros, continuam a se drogar na maturidade e muitas vezes arrastam parra a velhice, principalmente aqueles que são abatidos pela solidão. Entre as drogas mais consumidas está a maconha, barbitúricos e anfetaminas. Adivinha quem é a mola propulsora disso? Sim, a homofobia, pois na "tentativa de aliviar ansiedade e a depressão causada pelo sofrimento imposto aos gays, o álcool e as drogas se tornam poderosos aliados destes", lembra o psicólogo.

Livro "Terapia afirmativa" aponta homofobia social como o grande mal dos gays

Klecius Borges

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